Conheça os três candidatos à presidência da Câmara Federal
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Conheça os três candidatos à presidência da Câmara Federal
janeiro 29, 2025
O voto, porém, é secreto, havendo margem para dissidências entre os parlamentares
Porto Velho, RO - No próximo sábado (1º), a Câmara dos Deputados realizará seu processo eleitoral para compor a nova Mesa Diretora, encerrando os quatro anos de condução do presidente Arthur Lira (PP-AL). Três deputados disputam a cadeira: seu indicado à sucessão, Hugo Motta (Republicanos-PB), concorre com o deputado bolsonarista Marcel van Hattem (Novo-RS) e com o deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), um dos vice-líderes do governo na Casa. Os três são jovens, na faixa dos 30 anos.
Com exceção da federação Psol-Rede e do Novo, os demais partidos declararam apoio à candidatura de Hugo Motta nos últimos meses de 2024, consolidando uma base que pode chegar até a 494 deputados. O voto, porém, é secreto, havendo margem para dissidências entre os parlamentares.
O Psol e o Novo possuem histórico de lançar candidatos à presidência da Câmara, mesmo sem chances de vencer, para, ao mesmo tempo, divulgar suas principais pautas e não avalizar candidatos com os quais possuem discordâncias programáticas ou ideológicas.
Conheça os três candidatos:
Hugo Motta (Republicanos-PB)
Hugo Motta (Republicanos-PB) se consagrou como indicado de Arthur Lira. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Médico nascido em João Pessoa (PB), Hugo Motta embarcou na política como o deputado federal mais jovem da história brasileira, assumindo seu mandato em 2010 aos 21 anos, na época do MDB. Tornou-se aliado próximo do deputado Eduardo Cunha, que presidiu a Câmara em 2015 e movimentou o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Confirmando-se sua eleição, será o mais jovem presidente da Casa desde a redemocratização, com 35 anos. É filho de uma tradicional família política da Paraíba, com base na cidade de Patos. Seus avós foram deputados federais, e o pai é o atual prefeito da cidade.
Em 2018, migrou para o Republicanos e logo assumiu a liderança da bancada e criou proximidade tanto com o presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), quanto com Arthur Lira, que mais tarde também se tornaria presidente da Câmara.
Em 2024, seu nome começou a ser cogitado para a sucessão de Arthur Lira, mas não era o mais forte. O nome preferido inicialmente por Lira era o de Elmar Nascimento, líder do União Brasil, que buscava construir uma base de apoio. Seus principais concorrentes eram Marcos Pereira, que também buscava o endosso de Lira, e o líder do PSD, Antonio Brito, com uma plataforma própria e apoio de grande parte da ala governista.
Hugo Motta e Doutor Luizinho (PP-RJ) foram mantidos como nomes alternativos por Lira até o mês de setembro, quando Marcos Pereira anunciou oficialmente sua desistência, e recomendou a Arthur Lira que considerasse o nome de Motta para construir uma candidatura de consenso. A proposta foi bem recebida tanto pelo congressista quanto pelo presidente Lula, que o recebeu no Palácio da Alvorada.
No final de outubro, Arthur Lira oficializou seu apoio a Hugo Motta, que logo se articulou para trazer o máximo de partidos ao seu lado: no primeiro dia de campanha, assegurou o apoio do PP e Republicanos. No dia seguinte, trouxe ao seu lado as lideranças do PT, PL, Podemos e MDB, derretendo as bases de seus adversários. No início de novembro, Elmar Nascimento e Antonio Brito estavam fora da disputa, e seus partidos declararam apoio ao republicano.
Conforme os dados do Radar do Congresso, Motta é o candidato que mais votou com o governo, tendo acatado 88% das orientações do Executivo em Plenário. Ele também fez parte das bases das gestões de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Sua postura de diálogo com os dois lados foi o principal combustível de sua ascensão como sucessor de Lira, com a promessa de assegurar a estabilidade institucional e garantir com que governo e oposição tenham voz em sua gestão.
Motta também apresentou uma solução de meio-termo para o debate a respeito da anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023, tema sensível tanto para o PT, contrário à anistia, quanto ao PL, favorável: se eleito, seu compromisso é de submeter o projeto sobre o tema ao rito regimental, não acelerando e nem emperrando a discussão até chegar ao Plenário. Ele próprio é adepto à tese de que a questão deve ser discutida, considerando parte das sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como exageradas.
Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ)
Em seu primeiro mandato, Henrique Vieira se consolidou como liderança progressista na Câmara. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Historiador, teólogo e sociólogo, o pastor evangélico Henrique Vieira é fundador da Igreja Batista do Caminho, que realiza cultos itinerantes nas cidades de Rio de Janeiro e Niterói pregando a fé evangélica sob uma ótica progressista.
Ganhou notoriedade em seu discurso crítico ao uso da fé para a propagação do fundamentalismo e pela tese de que Jesus era negro, criado em meio aos mais pobres e compartilhando de suas dificuldades. Embora seja pastor, não integra a bancada evangélica, com a qual mantém profundas diferenças. Tem 37 anos.
Durante a adolescência, foi aluno do ex-deputado e hoje presidente da Embratur, Marcelo Freixo, professor de História na época. Os dois mantiveram uma relação de proximidade, culminando na entrada do pastor na política em 2012, quando foi eleito vereador por Niterói.
Após não se reeleger em 2016, tornou-se conselheiro no Instituto Vladimir Herzog em 2018. No ano seguinte, atuou no filme “Marighella”, lançado em 2021 e dirigido por Wagner Moura, no papel do personagem Frei Henrique, inspirado no frade Fernando de Brito, sacerdote católico que participou da luta armada contra a ditadura militar.
Em 2022, retornou à cena eleitoral, sendo eleito deputado federal. Abolicionista penal, Vieira logo se tornou líder do governo na Comissão de Segurança Pública, onde se posicionou como principal voz contrária a projetos de endurecimento de penas e aumento do comércio de armas. Seu discurso também atraiu a inimizade de quadros da Bancada da Bala, constantemente hostil à sua presença.
Ao final de 2024, foi escolhido pelo Psol para representar a bancada na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Seu programa de propostas seguem com a corrente de pensamento progressista: o parlamentar defende projetos que garantam o fim da escala de trabalho 6×1, a defesa do meio ambiente e dos direitos das mulheres. Também é abertamente contrário à anistia aos presos em condenações relativas aos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Assim como Hugo Motta, assumiu o compromisso de dar previsibilidade à pauta da Câmara, além de defender uma reforma política que aumente a transparência do orçamento anual, em especial ao tratar das emendas parlamentares, das quais é adepto a um controle maior sobre os valores a serem destinados por ano. Apesar de ser vice-líder do governo, é ligeiramente menos governista do que o líder do Republicanos: segundo o Radar do Congresso, possui 82% de governismo.
Marcel van Hattem
Opositor ao governo Lula, Marcel van Hattem tenta pela quarta vez a presidência da Câmara. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Filho de pai holandês e mãe brasileira, Marcel van Hattem é um dos mais ferrenhos opositores ao governo Lula. Com dupla nacionalidade, trabalhou na Diretoria de Empreendimentos Internacionais do Ministério dos Assuntos Econômicos, Agricultura e Inovação do governo dos Países Baixos (Holanda).
Entrou na política em 2004, quando foi eleito vereador pelo município gaúcho de Dois Irmãos pelo PP. Em 2014, foi eleito deputado estadual. Mesmo distante de Brasília à época, fez campanha no Rio Grande do Sul pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, cassada em 2016.
Em 2018, filiou-se ao partido Novo, sigla pela qual se elegeu deputado federal e se consolidou como uma de suas principais lideranças na Câmara. Dentro do partido, esteve em constante atrito com o então presidente da legenda, João Amoêdo, crítico ao seu discurso agressivo e à proximidade com a família de Jair Bolsonaro. Isso não minou a influência de Marcel van Hattem dentro da sigla: a ala considerada mais radical da legenda se tornou a dominante nas eleições de 2022.
Nas duas legislaturas, Marcel Van Hattem disputou todas as eleições para presidente da Câmara dos Deputados, apresentando-se como alternativa à direita em relação aos partidos tradicionais. Recebeu 23 votos em 2019; 13 em 2021 e outros 19 em 2023. Aos 39 anos, foi o mais recente a entrar na disputa pela cadeira presidencial da Casa em 2025.
Na atual legislatura, está entre as principais lideranças oposicionistas ao governo Lula, ocupando a posição de primeiro vice-líder da Oposição. É um dos principais organizadores do bloco na articulação internacional. Fez parte do grupo de deputados bolsonaristas que viajaram para os Estados Unidos acompanhar a posse de Donald Trump. No Radar do Congresso, figura entre os parlamentares com menor índice de governismo. Acompanhou a orientação do governo em apenas 21% das votações em Plenário.
Marcel van Hattem é também um dos principais defensores da anistia aos presos de 8 de janeiro, constantemente se pronunciando pela causa. Também milita em defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem acusa de abuso de autoridade na condução de processos contra lideranças bolsonaristas.
Em novembro de 2024, foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de calúnia e injúria após tecer ofensas, desafiar e expor na tribuna da Câmara uma foto do delegado Fábio Alvarez Schor, responsável pelo inquérito da operação Tempus Veritatis, que investiga a tentativa de golpe de Estado por membros do governo Bolsonaro após as eleições de 2022. O episódio divide opiniões entre parlamentares a respeito do respeito ou não ao princípio da imunidade parlamentar.
As promessas de Marcel van Hattem incluem a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Lula e a inclusão em pauta da anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023.
Fonte: Congresso em Foco
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