EUA retomam sanções contra a Venezuela após candidatos da oposição serem barrados das eleições
Levantamento, que expirará na quinta-feira, havia sido concedido em outubro como parte do Acordo de Barbados; renovação estava condicionada ao andamento do processo eleitoral
Porto Velho, RO - Os Estados Unidos retomaram nesta quarta-feira as sanções contra o petróleo e o gás da Venezuela, segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, após candidatos da oposição venezuelana terem sido impedidos de concorrer à Presidência.
O levantamento havia sido concedido em outubro, por um prazo de seis meses, como parte do Acordo de Barbados, diálogo entre o governo Nicolás Maduro e opositores em que foi negociado o alívio às sanções americanas em troca da realização de eleições livres no país. A medida está prevista para expirar nesta quinta-feira, e sua eventual renovação estava condicionada ao andamento do processo eleitoral.
— Depois de uma revisão minuciosa da situação atual na Venezuela, os Estados Unidos determinaram que Nicolás Maduro e seus representantes não cumpriram plenamente os compromissos assumidos no acordo eleitoral" assinado com a oposição em outubro — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
Haverá um "período de redução de 45 dias para transações relacionadas às operações do setor de petróleo e gás", segundo o Tesouro americano, para que a expiração "não provoque incerteza no setor global de energia", disse uma fonte. O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) emitiu uma nova licença que permitirá a liquidação de transações pendentes até 31 de maio.
A partir de agora, empresas que queriam fazer negócios com Caracas deverão ser autorizadas por Washington, que poderá emitir "licenças específicas" após avaliação "caso a caso".
— Maduro e seus representantes não cumpriram totalmente o espírito ou a letra do acordo — disse uma autoridade americana ouvida pelo New York Times, apontando a "desqualificação de candidatos e partidos por questões técnicas e o que vemos como um padrão contínuo de assédio e repressão contra figuras da oposição e da sociedade civil".
O governo venezuelano ainda não se manifestou sobre o caso. No entanto, em um discurso televisionado na segunda-feira, Maduro, prevendo que as sanções seriam restauradas, disse:
— Não somos uma colônia de gringo. A Venezuela vai continuar sua marcha econômica.
Indústria 'não vai parar'
Antes do anúncio, o ministro venezuelano do Petróleo, Pedro Tellechea, havia assegurado nesta quarta-feira que sua indústria "não vai parar" diante da reativação das sanções por parte dos Estados Unidos, que, segundo ele, não serão afetados na prática pela medida.
Trata-se da Licença Geral 44, que autorizava transações relacionadas ao setor de petróleo e gás. Outra licença de operação concedida à Chevron americana, por meio da qual os Estados Unidos têm acesso ao petróleo bruto venezuelano, não está em risco.
— Em nenhum momento deixamos de produzir, comercializar ou explorar nossas reservas — disse Tellechea em uma reunião com jornalistas em Caracas. — Não vamos parar com uma licença ou sem uma licença.
O ministro também questionou sobre quais mercados serão, de fato, afetados com as novas sanções ao petróleo venezuelano, indicando que nada mudaria para Washington.
— Quem estamos realmente afetando? — questionou. — Os Estados Unidos continuarão a ter acesso ao petróleo venezuelano, mas os europeus e os indianos possivelmente não terão essa possibilidade, e os asiáticos terão algumas dificuldades.
Em março, o petróleo bruto venezuelano atingiu seus preços mais altos desde o início de 2020 diante da expectativa de retorno das sanções, informou a agência Reuters na época.
Tellechea, que também é presidente da estatal Petróleos de Venezuela, disse que está realizando reuniões com outros gigantes norte-americanos do setor de energia, como a ConocoPhillips e a ExxonMobil e a britânica BP, além de anunciar a expansão da operação da Chevron no país.
Os EUA já haviam levantado a possibilidade de reimpor sanções, incomodados com a evolução do processo eleitoral de 28 de julho, no qual Maduro busca um terceiro mandato de seis anos.
Contudo, ao mesmo tempo em que saudou o cronograma eleitoral proposto e a abertura à observação internacional, Washington condenou a desqualificação da candidata da oposição María Corina Machado, favorita nas pesquisas e vencedora das primárias com mais de 90%, e o subsequente veto à candidatura de sua substituta, Corina Yoris.
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