PSOL já formou maioria para não compor governo Lula, diz Sâmia
PSOL já formou maioria para não compor governo Lula, diz Sâmia
Dezembro 05, 2022
Líder da bancada do partido na Câmara, ela afirma que alinhamento pode descaracterizar a sigla
O PSOL decidirá, no próximo dia 17, se irá compor o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou se será independente da gestão petista. De acordo com a líder da sigla na Câmara dos Deputados, a deputada federal Sâmia Bomfim (SP), a segunda opção já reúne maioria dentro do partido e pode vir a prevalecer.
Se a previsão da parlamentar se confirmar, o PSOL optará por abrir mão de cargos no governo federal. "A gente quer ter liberdade para se posicionar como o PSOL sempre se posicionou, como a ala à esquerda no Congresso Nacional, e vocalizar pautas que a gente sabe que ninguém vai pautar", diz Sâmia à coluna.
"Temas relativos a direitos humanos, por exemplo, é muito comum que não sejam pautados em função de acordos feitos com fundamentalistas, com setores mais conservadores. A gente quer manter a independência para seguir pautando. Essa é a nossa vocação no Parlamento", continua.
A decisão será tomada durante reunião do Diretório Nacional do partido. A defesa pela independência deve encontrar resistência entre dois nomes proeminentes da legenda: seu presidente, Juliano Medeiros, e o deputado federal eleito Guilherme Boulos (SP), que hoje integram a equipe de transição de Lula.
A deputada reconhece que não há unanimidade em torno do posicionamento defendido por ela e por outros correligionários. "Mas eu afirmo que é maioria", diz.
Entre parlamentares que apoiam a proposta estão os deputados federais Talíria Petrone (RJ), Glauber Braga (RJ) e Fernanda Melchionna (RS) e a vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton (SP), segundo Sâmia Bomfim.
A líder do PSOL na Câmara diz que o apoio dado a Lula durante a disputa eleitoral não deve ser confundido com a postura que será adotada pelo partido nos próximos quatro anos. E nega que haja uma pretensão de atrapalhar a gestão do petista ou até mesmo de se alinhar à oposição, que passará a ser integrada também por bolsonaristas na próxima legislatura.
"A gente vai estar na linha de frente para garantir que o programa do Lula possa ser aplicado no Brasil", diz a deputada. "Mas a gente sabe que, pela própria composição [com outros partidos] que foi necessária ser feita, em especial no segundo turno, podem ter muitos temas com os quais a gente discorda."
A agenda econômica seria um deles. "O PT vai, muito provavelmente, buscar uma saída mediada com as pressões do mercado, como está buscando agora", afirma Sâmia, citando o debate sobre o teto de gastos como exemplo.
Ela defende que manter a independência em relação ao governo eleito seria também uma forma de preservar a identidade e o perfil programático do PSOL. "O governo te impõe amarras, inevitavelmente", diz.
A deputada pontua que a escolha por não compor com o governo não se assemelha ao que ocorreu no início dos anos 2000, quando o PSOL nasceu a partir de uma ruptura do PT e fez oposição declarada ao partido da situação.
"Agora a discussão não é sobre ser oposição ou não, mas sobre não depender de cargos no governo para definir qual é a nossa posição política sobre diversos temas", destaca.
"A estrutura de governo é muito sedutora. Não é um aspecto moral ou individual, mas ela molda a posição, ela molda a ideologia partidária. A gente acha que se o PSOL se enveredar por esse caminho agora, pode perder um pouco da sua função, da sua existência", acrescenta.
Ela cita como exemplo de independência o posicionamento recente do partido em relação ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na última semana, a bancada do PSOL decidiu por não apoiá-lo em seu projeto de reeleição, diferentemente do que fará o PT de Lula.
Estuda-se, inclusive, a construção de uma candidatura própria do PSOL para fazer oposição ao deputado alagoano —ainda que dificilmente ela possa sair vitoriosa.
"Eu questiono os hiperpoderes que o Arthur Lira vai ter na próxima legislatura. Não se propõe nenhum nome alternativo para disputar? Vai ser o voto da extrema direita, do centrão e da esquerda no Arthur Lira? Ele pode ter, então, 500 votos? Isso é positivo para o governo Lula?", diz Sâmia.
"Não ter disputa democrática em torno de um tema tão fundamental que é a presidência da Câmara não é bom para o governo Lula. É legítimo, eu entendo e respeito, mas não dá para contar com que o PSOL seja parte disso."
Reeleita no pleito deste ano, Sâmia Bomfim deixará a liderança do PSOL na Câmara em 1º de fevereiro de 2023, quando a nova bancada tomará posse. Ela se diz orgulhosa de sua gestão, principalmente pelo peso simbólico e político de assumir um cargo como esse enquanto mulher.
"É difícil, não vou romantizar, mas consegui falar de igual para igual, se impor, ser ouvida e se posicionar", afirma. "Eu fui a líder mais jovem da legislatura, e da bancada também. Em muitos momentos, éramos apenas eu e a Joenia [Wapichana, deputada por Roraima] de mulheres em reuniões com muita gente, com Lira, com o centrão, então foi muito desafiador", segue.
Se ela arrisca um palpite sobre quem a sucederá no posto? "Eu chutaria que vai ser o Boulos, pelo peso dele mesmo. Entrou com tudo aqui na Câmara. Só não vai ser se ele não quiser", afirma, rindo. O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) foi o campeão de votos em São Paulo, somando 1.001.453 deles.
Sâmia também diz se orgulhar por encabeçar uma bancada que serviu de vitrine para a militância psolista e para outros postulantes de seu partido durante as eleições de 2022.
"O PSOL foi muito bem. Ampliou a sua bancada, cresceu em referência, soube apoiar o Lula, mas sempre mostrando a sua cara própria. E eu acho que a nossa liderança foi parte importante disso. A sensação é de dever cumprido. De que eu fiz o que era possível e impossível."
A atriz Martha Nowill estreou o solo "Pagu – Até Onde Chega a Sonda", no Sesc Pompeia, em São Paulo, na quinta-feira (1º). Martha une suas histórias e impressões às da jornalista e ativista Patrícia Galvão, a Pagu, para discutir o machismo de hoje. A peça é dirigida por Elias Andreato. A dramaturga Denise Stoklos e a atriz Maria Luisa Mendonça compareceram à estreia.
Fonte: Folha de São Paulo
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