Mães e bebês se abrigam em porão de hospital infantil em Kiev, na Ucrânia - CORREIO CONTINENTAL

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Mães e bebês se abrigam em porão de hospital infantil em Kiev, na Ucrânia

Até agora, o local foi poupado do bombardeio que atingiu os arredores da cidade, embora funcionários tenham dito que ouviram tiros nos últimos dias

PORTO VELHO, RO — No porão sombrio do Hospital Infantil Ohmadyt, em Kiev, mães e bebês encontram o conforto que é possível em camas improvisadas e cobertores dispostos em ambos os lados do corredor de concreto.

Doentes demais para ir para casa ou fugir da capital com suas famílias após a invasão da Ucrânia, crianças mais velhas tentam se adaptar à vida sitiada, ficando longe de janelas e deitadas em corredores com soro intravenoso.

Funcionários, pacientes e suas famílias compartilham o choque por serem pegos em um conflito que parecia inimaginável tempos atrás. Como outros, seu foco imediato é a sobrevivência.

— São pacientes que não podem receber tratamento médico em casa, não podem sobreviver sem medicação, sem assistência de profissionais de saúde — disse o cirurgião-chefe Volodymyr Zhovnir a repórteres nesta segunda-feira.

O maior hospital desse tipo no país, o Ohmadyt normalmente tem até 600 pacientes, mas esse número agora é de cerca de 200, disse durante uma visita da imprensa à clínica estatal no centro de Kiev, organizada pelo governo.

Em uma ala cirúrgica, cirurgiões e enfermeiras operavam um menino de 13 anos trazido por uma ambulância depois de ser ferido nos confrontos armados.

Até agora, quatro crianças foram tratadas por estilhaços e ferimentos de bala — vítimas de bombardeios dentro e ao redor de Kiev e combates entre as forças russas e ucranianas. Um permanece em estado grave.

Entre as mães do hospital está Maryna, cujo filho de nove anos sofre de um câncer no sangue que requer tratamento regular.

Mais cedo nesta segunda-feira, sirenes de ataque aéreo soaram nas ruas praticamente vazias de Kiev, alertando sobre outro possível ataque de mísseis da Rússia, que descreve suas ações na Ucrânia como “operação especial”.

— Quando há bombardeios, sirenes, temos que descer as escadas — disse Maryna, segurando as lágrimas enquanto falava. — Também recebemos tratamento aqui, temos medicamentos, mas precisamos de mais comida, coisas básicas.

'Precisamos de paz'

Até agora, o hospital foi poupado do bombardeio que atingiu os arredores da cidade, embora funcionários tenham dito que ouviram tiros nos últimos dias.

Kiev está se preparando para batalhas piores à medida que as forças russas se aproximam, e a entrada do hospital foi guardada por policiais fortemente armados durante a visita da imprensa.

No bunker subterrâneo, dezenas de crianças e seus pais estavam deitados em esteiras, algumas precisando de oxigênio adicional e outras conectadas a soro intravenoso.

Os pacientes em terapia intensiva que não podem ser movidos foram colocados em áreas relativamente seguras do edifício. As crianças dormiam em cadeiras nas áreas de recepção; ao longo de um corredor.

Também há preocupação com a segurança da equipe médica.

— Também devemos cuidar do pessoal, porque, se morrerem ou se machucarem, o que fazemos, quem vai tratar os pacientes? — perguntou Valery Bovkun, um microcirurgião do Ohmadyt.

Zhovnir, o cirurgião-chefe, disse que o hospital havia estocado medicamentos suficientes para um mês, mas acrescentou que precisava de comida para bebês recém-nascidos.

— De todas as coisas, o que mais precisamos é de paz. Tudo isso é a ponta de um iceberg. As pessoas estão, por exemplo, me perguntando onde comprar insulina para crianças, as farmácias não estão abertas.

E ele se preocupava tanto com as crianças que não conseguiam chegar ao hospital quanto com as que estavam presas lá.

O hospital normalmente atende de seis a sete crianças por dia com queixas comuns, como apendicite, mas esse número caiu drasticamente.

— Elas não desapareceram, elas simplesmente não conseguem chegar aqui — acrescenta o médico.


Fonte: O Globo

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